Sarah Kubitschek no ano de 1981 – Exame de admissão
Giselle Soares Gomes ( Graduanda em Pedagogia, pela FE / UFRJ) entrevista Alcineia Bauer, ex aluna do Instituto de Educação Sarah Kubitschek.
A entrevistada de hoje é Alcineia Bauer, professora de geografia aposentada. Alcineia, estudou no Instituto de Educação Sarah Kubitschek nos anos de 1981 a 1983 e contou um pouco sobre sua trajetória na instituição durante esse período.
Como era feita a seleção para que os alunos estudassem no Instituto de Educação Sarah Kubitschek no ano que você entrou?
´´Eu fui até o Sarah, quando estava no final da oitava série e estudava na Café Filho. Fui com umas amigas até o Sarah Kubitschek que era a escola mais próxima da gente, porque teríamos apenas o Carmela Dutra ou o Sarah Kubitschek. Lá a gente fez a inscrição para participar da prova de seleção, e na data da prova houve a avaliação de português e matemática, não me lembro se tinha outros conteúdos, mas acho que eram só esses.
O resultado era colocado nos murais do Sarah, com os nomes de quem fez mais pontos até a menor quantidade de pontos. Eram no total 50 pontos e eu fiz 25 [risos], ou seja, eu fiz 50% da prova, bem ali no limite mesmo.
Mas existia também uma outra possibilidade, que hoje se fala uma repescagem. Depois que as vagas fossem preenchidas quem tivesse feito menos pontos era chamada também da mesma forma. Porque, em todos os colégios do ensino médio tinha que prestar uma avaliação para entrar, e às vezes as pessoas faziam em várias escolas, porque não era no mesmo dia. Então a pessoa às vezes tinha essa possibilidade. De repente, ela fazia para o Sarah, ou outra escola, mas preferia outra. Então sobrando vaga, eles faziam de novo uma nova listagem que ficava nos murais dos corredores do Sarah.´´
Curiosidade que a convidada comentou durante a entrevista:
´´ Eu tenho uma coisa curiosa que esse período que eu estudei lá no Sarah, foi um período onde começaram as manifestações pela dependência. E lá no Sarah, nós fizemos uma manifestação com o RJTV eu lembro até que a repórter, era uma repórter que eu acho que não está nem mais atuando era a Leilane Neubarth, ela foi lá e a gente jovenzinha impressionada, a gente fez uma manifestação, claro que eu tava, fiz cartazes que a minha letra era boazinha [risos]. Fizemos porque achávamos injusto, ter 15 matérias e ficar reprovada por causa de 1 matéria, 2 matérias. Na minha época uma matéria, pouquíssimos pontos você ficava reprovado. Eu me lembro que não era tão falado dependência e a gente fez essa manifestação porque achávamos injusto tantas matérias e você ficar por uma ou duas, foi um fato também marcante.
Nesse período também estava construindo o Miécimo (escola a nível médio) que é nos fundos do Sarah, eu quando comecei lá no Sarah eu entrava no terreno porque eu ia de trem. Ia para Bangu, e de Bangu pegava o trem para o Sarah porque era mais barato do que eu pegar dois ônibus , que eram da Vila Kennedy até Campo Grande e de Campo Grande para lá. Por incrível que pareça o preço dos ônibus saia mais caro do que de trem. Foi uma fase difícil para todo mundo, a gente pagava passagem, não tinha merenda. Às vezes eu ia para escola tomava um café em casa de manhã e só ia comer quando eu chegava em casa de novo. Tinha cantina, mas eu não tinha dinheiro. A tanto que mais adiante eu conversava com vocês (ex alunos) das possibilidades que passaram a existir o passe do estudante, a merenda no ensino médio.
Outra coisa que eu observei foi que houve uma mudança do Sarah da minha época, para de vocês é em questão ao uniforme. Na época em que eu estudava, era um rigor muito grande quanto ao comprimento da saia. Só passava na rampa para subir com os 4 dedos acima do joelho, e não existia outra possibilidade, calça comprida não podia. Era aquele uniforme ́ ́basicão ́ ́ mesmo, a saia e a blusa de manga curta durante os dias da semana, menos na quarta feira. Na quarta feira era o uniforme oficial que era a blusa de manga comprida com a gravatinha, e isso não tinha conversa, você não entraria no Sarah se você esquecesse e você com a blusa de manga curta você iria voltar. Então assim, havia um rigor muito grande. Ai eu faço uma observação, na época a gente achava que era um absurdo, essa cobrança. Mas, hoje já vejo de uma outra forma, porque isso criou na gente uma responsabilidade muito grande que o adolescente não tem. Eu entrei no Sarah tinha acabado de fazer 15 anos. Então assim, eu me lembro de já ter saído de casa, chegado no ponto do ônibus e visto as outras meninas que estudavam comigo com a manga comprida , aí eu tinha que voltar em casa e eu não repetia isso. Então, algumas coisas criam uma responsabilidade muito grande. E eu achava também sobre o tamanho da saia, embora eu não me incomodasse. Mais adiante, eu já dava aula de geografia na segunda fase do fundamental, antigo ginásio, eu comecei a ver alunas minhas já tinha rede social e eu comecei a ver os comprimentos das saias, e olha eu não achava legal aquelas saias curtinhas. Pra mim, não combinava aquela saia com aquele uniforme, e olha que você sabe que eu não dou careta, isso foi uma coisa que ficou em mim. Olha o Sarah foi muito marcante pelo período do estudo muito levado a sério, dessa disciplina de você ter que usar o uniforme, a cobrança de você ser disciplinado, que parece uma bobagem, mas essa cobrança da disciplina de ter que usar o uniforme, não a disciplina dos modos mas a disciplina de você ser disciplinado. Você tem que fazer isso e tem que fazer e ponto, porque a vida é assim ela vai te cobrar coisas que você não está preparado. Eu acho que naquele momento o Sarah dava esse suporte bem legal também.
Os estágios nessa época era na própria escola?
´´Não, não necessariamente. Porque eram muitas turmas e não tinha como fazer estágio lá no Sarah para todas as turmas. Eu fiz estágios em duas escolas, uma aqui em Campo Grande mesmo que é João Proença e a outra na Fernando Barata Ribeiro que é uma escola em Santíssimo, mas pela Avenida Santa Cruz. A Professora de didática organizava os grupos e nós íamos nos dias determinados na escola, às vezes tínhamos que preparar uma aulinha e a professora ficava ao fundo da sala nos observando. Ao final das aulas a professora dava um parecer sobre a aula e o que tinha que melhorar.´´
O que mais te marcou na época da escola ?
´´ Olha aquela época era muito difícil, eu passei por muitas coisas. E isso me faz pensar que apesar de todos os perrengues eu consegui. Mas não quero trazer isso como minha melhor lembrança desse período. A minha melhor lembrança dessa época, foram as amizades que construí. Inclusive, tenho amigos dessa época até hoje, a gente sai juntas, viajamos. O Sarah por ser uma escola grande te permite conhecer muitas pessoas, pessoas de realidades diferentes da sua. Tinha pessoas que tinham grana, pessoas que eram duras como eu, pessoas que tinham de tudo mas não tinha uma família presente. Enfim, o Sarah foi um local de grandes aprendizados e amizades. Ah como eu amava sentar perto daquelas árvores ou no pátio para bater papo com as amigas. Era um tempo incrível e que muito me marcou pelas amizades que se tornaram companheiras para vida.´´
Como você vê o magistério hoje?
´´ Acho que já comecei a gravar e apaguei esse áudio umas 3 vezes. Bom, essa é uma pergunta difícil e eu estou procurando palavras para definir melhor. Olha, eu fui professora alfabetizadora durante 10 anos. Dei aula de geografia também por um longo tempo, mas acho que o magistério hoje está mais difícil. Não que antes não fosse desafiador, mas hoje é muito mais.
São pais que muitas das vezes não estão acompanhando seus filhos, adolescentes que desafiam a autoridade do professor. Enfim, para ser um bom profissional hoje, é necessário muitas negociações e jogo de cintura do professor. Por exemplo, você vai lá na Orestes (escola que a entrevistada deu aula e inclusive eu estudei) tinham alunos que só queriam desafiar o professor. Não cumpriam a regra de usar uniforme e chegavam na escola sem. Se fossemos professores, que não soubessem lidar com essas situações, com certeza nós mandaríamos para casa. Mas seria melhor ficar na escola? ou mandar embora? Ai sabe, entra o jogo de cintura do professor.
Agora já tiveram casos de alunos que realmente não tinham uniforme e a escola tinha que deixar entrar porque sabia da situação. Aí novamente entra o jogo de cintura do professor. Saber lidar com muitas situações não é fácil, e hoje em dia as coisas estão mais desafiadoras. O que me conforta é saber que existem pessoas Giselles como você que apesar de tudo contribuem para oferecer uma educação para as gerações que estão vindo aí. Isso é muito gratificante para mim, ver ex alunos meus alcançando lugares de professores dessa geração mais nova.´´