De 1920 a 2020: diferenças e similaridades da educação do Rio de Janeiro
Por Larissa Santana e Livia de Fátima Conceição (Graduandas FE/UFRJ)
Em 100 anos uma sociedade pode mudar e muito. No último século houveram diversas transformações em vários campos da humanidade, inovações foram criadas, guerras políticas travadas, países surgiram e caíram, o homem foi à Lua e as mulheres foram a luta de seus direitos. Traçar uma linha de comparação entre os anos de 1920 e 2020 pode parecer que só haverão diferenças, porém há sim muitas similaridades. Na verdade, parece um ciclo se repetindo. Como já vimos nos post’s anteriores, no início do século XX o Rio de Janeiro estava passando por turbulências políticas, epidemias, negação da ciência em busca da cura, que levou a Revolta da Vacina, além de diversas consequências socioeconômicas advindas das reformas urbanas na área central. Porém, iremos nos deter a uma área mais específica: a educação. Poderíamos traçar diversos paralelos e comparativos nessa área, entretanto vamos analisar a ideia de educação que surgia naquele momento no Rio de Janeiro e como ela estava a serviço da remodelação da cidade e como ainda podemos enxergar um pouco desse fenômeno nos tempos atuais. Diante desse tema, não entraremos nos méritos de ser dever da escola levar esses ensinamentos ou não, mas dialogar com as similaridades das escolas e dos tempos.
Reconhecendo as indissociáveis relações entre as reformas urbano-sociais e as práticas escolares do século XX, o governo do Rio de Janeiro tinha ideia de inserir a escola e os alunos num mundo urbano moderno e enfatizar a contribuição que dela se esperava na transformação dos seus hábitos. Esse entrelaçamento das dimensões das reformas urbanas, as campanhas de higienização e educacionais buscavam uma forma de legitimação.
Diante disso, as preocupações escolares almejavam tanto educar as crianças, quanto pulverizar esses preceitos entre as famílias, comunidades e conhecidos. Nas salas de aulas, nos momentos de compartilhamento da escola com a família e a sociedade, em reuniões, nas datas festivas, em todos os seus encontros seriam momentos de divulgação, mesmo que de forma indireta, dos preceitos pregados de uma sociedade civilizada.
Dessa forma, os saberes e práticas sociais que eram esperados de uma sociedade moderna seriam compartilhados e exercitados por todos e tornaria o espaço público organizado e higiênico. Essa “pedagogização das relações sociais”, como alguns autores tratam o tema, pode ser visto com adventos como os Programas Escolares em 1926, que traziam temas como os hábitos de cortesia, limpeza e ordem no convívio civil, coleta de lixo, combate a pragas e insetos, orientações sobre o uso da água, entre outros.
Ainda nos dias de hoje os preceitos básicos de higiene são colocados em estudo em diversos momentos dos estudos das crianças, principalmente nas áreas de ciências, dialogando com o ensino sobre a água, por exemplo. Entretanto, as moralidades, que já foram até disciplinas escolares durante alguns anos, não estão mais presentes, de forma explícita.
Contudo, em 2020, enfrentamos uma pandemia por conta da COVID-19. Nossos hábitos mudaram de forma drástica e precisamos aprender a viver em sociedade de uma forma completamente diferente. Nesse contexto, podemos traçar um paralelo com o Rio de Janeiro dos anos 20 e como as escolas tratavam a questão de higiene, como eles “educavam” os alunos para que estes pudessem educar as famílias sobre como se portar na rua, em locais públicos e em suas próprias casas. As escolas voltaram a ser uma fonte de informação sobre o que vem acontecendo, compartilhando sobre as novas práticas sociais e as questões de higiene que tivemos que adotar como o uso de máscara, álcool em gel, o distanciamento social e etc.