A configuração jesuítica nas escolas do século XIX

Por Gabriel Mariano Alvarez (IH-UFRJ)

A inserção da educação, por intermédio dos jesuítas, foi com um viés de propagação da fé católica, em meio a uma reforma religiosa em curso na Europa, de cunho colonizador, facilitando assim a dominação portuguesa em solo brasileiro. Contudo, com o passar dos séculos a forma dominadora, pode-se dizer que autoritária e repressiva, perdurou e fincou raízes no Brasil e seu processo educacional.

O ato de lecionar, no século XIX, estava inserido numa esfera ainda que dogmática, repressora e autoritária. A mudança ao longo dos séculos não se traduziu em melhorias, ao contrário na verdade, se manteve no status quo violento, mas traduzindo a época em que estava inserido. Em uma rápida contextualização, o século XIX ficou marcado por diversas revoluções, sociais e/ou científicas, que intensificaram os conflitos sociais – como por exemplo as Revoluções Industriais – e ensinar era um método de controle da burguesia e emancipação do povo, dito no artigo “A História da Educação no século XIX.”

Em solo brasileiro, temos uma sociedade nascida e crescida no ventre do modelo escravagista, lê-se violento/dogmático/repressor, com a corte real, em um primeiro momento portuguesa e depois brasileira, governando o país em especial após a vinda da família real, em 1807. O modelo educacional, estabelecido no Brasil, visava somente a educação de pessoas nobres, ignorando por completo as pessoas pobres e/ou escravizadas. Contudo, diversas reformas realizadas por Dom João VI, acarretaram a modernização da colônia, e sua elevação do posto de Reino Unido ao de Portugal. Em poucas palavras, era como se a capital de Portugal estivesse interiorizada, para além do Oceano Atlântico, no Rio de Janeiro.

A modernização da capital, uma sociedade consolidada e um maior fluxo de pessoas no país, trouxe consigo um rigor maior do legado dos jesuítas no que tange ao ato de lecionar. O panorama da sociedade brasileira oitocentista é pautado, ainda que não unicamente, em uma formação para os membros da alta sociedade:

Os colégios eram instituições criadas com a finalidade de receber os jovens da alta sociedade. Com duração média de quatro a seis anos, com custo elevado, somente os filhos de famílias de posse poderiam desfrutar de uma vida acadêmica tão longa (Arriada; Medeiros; Vahl, 2012, p.40)

O trecho acima destacado do artigo, “A sala de aula no século XIX: disciplina, controle, organização”, nos traz um apontamento sobre o direcionamento de ensino para uma parte seleta da sociedade.

A autoridade do professor, o modo como eram postas as carteiras e as diversas regras a serem seguidas, e sem tolerância para quem as quebrasse, é uma memória viva do Ratio Studiorum e em como ele se manteve vivo após 300 anos de diferença, e até mesmo com a expulsão dos jesuítas, com sua forma doutrinadora, não só de lecionar, mas que encontrava uma forma de resistência, as transgressões que existiam, mas eram facilmente suprimidas pelas autoridades escolares.

Por fim, entende-se que a estrutura dominante se manteve desde a hierarquia estudantil até sua instauração entre as quatro paredes de uma sala de aula. Ademais, se torna necessário dizer que atualmente, em colégios mais tradicionais e/ou religiosos, é mais notável esse tipo de abordagem educacional.

Bibliografia:

Arriada, Eduardo, Gabriela Medeiros Nogueira, and Mônica Maciel Vahl. “A sala de aula no século XIX: disciplina, controle, organização.” CONJECTURA: filosofia e educação 17.2 (2012).

DAVIDIS, Henriette; TRAINER, Theodore. Kleines Kochbuch [Pequeno manual de cozinha]. Leipzig: Berlag von Belhagen, 1887.

Santos, Edson Paulo, et al. “A história da educação no século XIX.” Caderno de Graduação-Ciências Humanas e Sociais-UNIT-SERGIPE 1.1 (2012): 175-181.