Quem eram os pequenos jornaleiros?

Por Livia de Fátima Conceição (mestranda em educação PPGE/UFRJ)

Você já conhece a história da Casa, mas deve estar se perguntando: por que criar uma instituição para crianças jornaleiras? Quem eram eles? Bem, vamos começar de onde eles surgiram…

A figura dos meninos jornaleiros remonta ao ano de 1875, quando o jornalista Ferreira de Araújo, frente às reformas da Gazeta de Notícias, contata menores para entregar os exemplares. Com o passar dos anos eles se tornam uma figura importante na sociedade e se organizam politicamente como uma classe. 

Essa figura é tão marcante no cenário da cidade que em 1933 foi inaugurado um monumento em homenagem aos pequenos jornaleiros no largo entre as Ruas do Ouvidor e Miguel Couto com a Avenida Rio Branco.  Essa mesma imagem é encontrada como símbolo da Casa em algumas documentações. Até hoje o monumento está no mesmo lugar, contudo não há placas de sinalização ou informações sobre sua história e importância para a cidade.

A obra do artista Fritz retrata um pequeno menino com roupas largas, chapéu na cabeça e uma pilha de jornais debaixo do braço. Então essa figura era bem comum aos olhos da sociedade, contudo fazia parte do que já mencionamos antes aqui, o “problema dos menores”. A presença dessas crianças e jovens nas ruas por grande parte do dia os deixavam expostos aos males da rua. Ou seja, poderiam ser desviados pelas drogas, bebidas, vadiagem entre outras questões. Somado a isso, por estarem trabalhando, muitas vezes não acompanhavam ou abandonavam a escola.

Nesse período político, buscava-se uma ascensão do país como potência, que viria através do trabalho. A ideia desses pequenos trabalhadores era bem vista pela sociedade, ao mesmo tempo em que se temia o desvio. E, uma vez desviadas e mandadas para as instituições correcionais, poderia se perder uma mão de obra útil. Assim, a figura do pequeno jornaleiro se tornou tão importante de se assistir. Essa foi a escolha de Darcy Vargas para seu primeiro trabalho assistencial como primeira-dama. Fortalecia a premissa do governo de Vargas de criar uma sociedade trabalhadora e útil e diminuía os índices de vadiagem e de recolhimento dessas crianças e jovens. Por muito tempo a função de pequeno jornaleiro se tornou um status social, uma identidade que deveria ser preservada. Diante disso, devemos contar a história dessa instituição tão importante na história da nossa sociedade e desses sujeitos.