Jesuítas no Brasil e sua influência na educação

Por Gabriel Mariano Alvarez (IH-UFRJ)

Quando se fala em educação no Brasil, muito se discute a respeito de temas mais atuais e contemporâneos para sua melhora, ou quiçá uma crítica acerca do processo educacional no país. Contudo, é necessária uma análise das raízes educacionais, que remonta a Idade Moderna, e seus tópicos como colonização, grandes navegações e o processo expansionista da igreja católica.

As grandes navegações foram um dos eventos importantes presentes na História Moderna. Impulsionados para criar rotas econômicas, Espanha e Portugal, por exemplo, se lançaram ao mar contando com o patrocínio de suas coroas e da Igreja Católica, ambos aliados à evolução tecnológica que permitiu aos marinheiros viajarem por mares nunca antes navegados. Ademais, no que diz respeito ao início da educação como técnica de assimilação cultural, no Brasil, pode-se partir de um marco zero, a chegada de Cabral em 1500, como forma de salientar que essas terras foram “descobertas” por Portugal, porém o processo de ensino se deu com a chegada dos jesuítas em 1549.

Os jesuítas, chamados assim por fazerem parte da Companhia de Jesus, se destacam pelo trabalho educacional praticado no período colonial. Nesse sentido, com a chegada desses agentes em terras brasileiras, ainda sob o domínio português, sua missão foi catequizar os povos indígenas para poder facilitar a colonização que já estava acontecendo. Contudo, o viés católico além da colonização era aumentar o número de fieis católicos, tendo em vista que a Reforma Protestante iniciada por Lutero, e que estava contestando o poderio da Igreja Católica na Europa, já vinha se alastrando por toda a Europa.

Nessa mesma lógica, se torna necessário citar o Ratio Studiorum, que continha regras de como se prosseguir a educação por meio da fé, atingindo assim seus objetivos.  Cabe lembrar que certos focos em seu manual permaneceram na forma de ensino atualmente. José Luis Monteiro, em seu artigo “Jesuítas na educação brasileira: Dos objetivos e métodos, até a sua expulsão.”, fala que é notável o aspecto de dominância e subordinação presente no manual, com o trecho retirado da obra de Ana Maria da Silva Costa Toyshima e Célio Juvenal Costa:

O manual contém 467 regras, cobrindo todas as atividades dos agentes envolvidos ao ensino. Iniciava pelas regras do provincial, depois do reitor, do prefeito de estudos, dos professores de modo geral, de cada matéria de ensino; incluía também as regras das provas de escrita, a distribuição de prêmios, do bedel, dos alunos e por fim as regras das diversas academias. Além das regras e das normas, o Ratio apresenta os níveis e ensino (Humanidades, Filosofia e Teologia) e as disciplinas que os alunos deveriam cumprir (Toyshima; Costa, 2012, p. 3)

É importante notar que neste trecho destacado, o rigor do modelo de ensino que implementaram no Brasil perdura até hoje e com o mesmo tom autoritário em que foi introduzido. A necessidade de se criar um manual para, por meio da fé subjugar e dominar os povos nativos, se assemelha ao modelo tradicional de ensino em que, retirando a imposição dogmática, mantém um caráter dominador, abusivo, e controlador e esse aspecto atravessou os séculos e perdura até hoje em algumas escolas brasileiras, como os seminários, as arguições e a emulação ou concorrência entre os estudantes, como veremos no próximo post.

Bibliografia:

CONCEIÇÃO, José Luís Monteiro. “Jesuítas na educação brasileira: Dos objetivos e métodos, até a sua expulsão.” Revista educação pública 17.3 (2017): 1-17.

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. “Companhia de Jesus”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-ordem-jesuita.htm. Acesso em 29 de março de 2024.

Meirelles de Lima, Victor. “Primeira missa no Brasil (versão final).” (1860).
TOYSHIMA, Ana Maria da Silva, and Célio Juvenal COSTA. “O Ratio Studiorum e seus processos pedagógicos.” São Paulo, maio (2012)