Uma família de professores

Livia de Fátima Conceição (Graduanda do Curso de Pedagogia-UFRJ)

Diz-se muito pelos cantos o porquê se escolhe ser professor. Muitos tentam descobrir se é um dom ou uma escolha. O que se pode dizer de uma família composta, majoritariamente, de professores? O que se pode dizer, se em nenhum momento lhes foi imposto, que a educação e o magistério estão na composição dessa família? Nesse contexto, trazemos aqui os relatos de algumas pessoas dessa numerosa família, que escolheram o magistério. Mas não se engane que eles foram os únicos, tem-se tios, primos, primas, filhos e filhas seguindo essa carreira, da Educação Infantil à Faculdade, perpassando por cursos técnicos e Educação de Jovens e Adultos.

Para começar a entender essa família, temos o primeiro depoimento de Maria Inez Marques da Conceição, 64 anos, que trabalhou na Escola Municipal Henrique Foreis (agora EDI Henrique Foreis) no bairro de Inhaúma, na Zona Norte. Para ela, ter uma família de professores teve pontos positivos, dentre elas, a se sentir mais tranquila na profissão. Com uma família de iguais, ela traz alguns pontos dessa conjuntura: “podemos trocar experiências, dividir angústias e festejar as vitórias”, relatou.

Por segundo, temos o depoimento da irmã mais nova, Sonia Maria Marques da Conceição Carreira, de 61 anos, que trabalhou por trinta anos na Escola Municipal José Marti, no Engenho da Rainha, Zona Norte, e sua filha Maria Fernanda Marques Carreira, 27 anos, atualmente diretora do EDI Tania Lenz, em Tomás Coelho, Zona Norte.  Sonia relata que sempre desejou ser professora, desde as brincadeirinhas de criança, e, depois, crescendo com a família de professores, dedicou trinta e três anos à educação.

Em sua opinião, ter uma família grande e com tantos professores tem suas vantagens, como a troca de ideias e experiências. Por fim, nos conta como são as reuniões familiares com tantos professores: “ Quando nos reunimos o assunto invariavelmente recai em escolas e educação! ”. Para Fernanda, a vivência com a família de professores proporcionou dividir as glórias e as dificuldades, além de ter a quem perguntar, em caso de dúvidas. Ademais, relata que ser professora em uma família de professores “é se identificar o tempo todo”.

Como últimos depoimentos temos os de seu irmão, Francisco Carlos Marques da Conceição, 62 anos, que lecionou no Colégio Estadual República do Peru, Méier – Zona Norte, como professor de História até sua aposentadoria em 2016, e sua esposa Lucinda Maria de Oliveira Marques da Conceição, 57, que fora Diretora da Casa da Criança Engenho da Rainha, no Engenho da Rainha – Zona Norte. O professor relata que o diálogo entre a família era algo fundamental, pois como estão na mesma profissão conhecem os prós e contras e assim se auxiliavam.

“Era uma relação de cooperação”, contou. Já a diretora relata que foi a primeira de sua família a seguir a carreira de professora, cursando o Curso Normal nos anos 1980. Ao se casar, se associou, e somou, a essa família de profissionais da educação. Para ela, é divertida a possibilidade de diálogos e trocas que se pode fazer quando se reúnem, principalmente nas festas de família.

Por fim, percebe-se como o tema educação permeia diversas vidas dessa família. Apesar de pensar que a educação sempre está, em algum grau, dentro de uma família, já que é obrigatório passar pela escola durante a infância, tem-se um movimento diferente nesta. Por ser numerosa, não se sabe por onde começou esse fenômeno de tantos professores e professoras, porém se tornou sua marca.

Como componente dessa família, cresci ouvindo discussões sobre novas leis, reclamações sobre verbas e infraestruturas ou pedidos de conselhos sobre acontecimentos dentro da escola, sempre como algo rotineiro para se falar durante um almoço de domingo. Com essa experiência, de me distanciar e olhar para minha própria família, pude observar, perceber muitas de suas potencialidades e registrar essas histórias.