Professores e alunos da escola em um território atingido pela violência armada

Por Túlio Ferreira Fialho (IP – UFRJ)

Dando continuidade ao Post sobre a Escola Municipal Erpídio Cabral de Souza, vou destacar a questão da violencia armada no entorno da Escola, a parir da tese de Adelaide Rezendo, cujas referencias e link estarão disponíveis nas indicações deste blog.

Você já parou para refletir e pensar no cotidiano da comunidade escolar em um território marcado pela violência armada e policial? A EM Erpídio Cabral de Souza é situada na divisa de duas comunidades (Nova Holanda e Baixa do Sapateiro) que são ocupadas por diferentes facções que dominam o tráfico de drogas. Essa rivalidade entre as facções gera conflitos armados, embora esses sejam raros de acontecer durante o horário da escola. Entretanto, quando eles acontecem, acabam interferindo negativamente na dinâmica escolar, já que muitos alunos faltam à escola no dia seguinte, ou então chegam agitados e estressados por não terem dormido direito. Logo, os professores precisam, por muitas vezes, alterar e redirecionar as atividades escolares previstas pelo calendário escolar. Além das batalhas entre facções, existem as operações policiais que, desde 2018, com o mandato do governador Wilson Witzel (atualmente afastado do cargo), aumentaram de forma abrupta e violenta. Sendo assim, a violência policial não envolve apenas as facções, mas, afeta, sobretudo, os moradores das comunidades e a comunidade escolar.

 A violência nesse território se torna tão frequente que os moradores acabam naturalizando algumas de suas manifestações, buscando então formas de habitar, existir e resistir nesses locais. Em relação a alguns professores, por exemplo, esse cenário pode ocupar e gerar, a princípio, uma certa estranheza e um grande medo. Uma professora que já trabalhava há algum tempo em outras escolas do Complexo da Maré, mas que não era moradora da região, afirmou que, a princípio, sentiu uma grande estranheza e medo ao chegar no local. Ela estranhava justamente o fato de as paredes de lojas, casas e escolas da Maré serem marcadas por balas de fuzis. Quando começou a trabalhar, ela se assustou com o grande número de operações policiais e o quanto essas situações se presentificavam em um cotidiano já naturalizado pelos moradores. Durante as suas primeiras semanas trabalhando, a professora já tinha aprendido vários códigos como, por exemplo, ir para o corredor da escola quando tiroteios aconteciam ali perto. Ou seja, ela foi incorporando, ao longo do tempo, os códigos e mecanismos de proteção e de sobrevivência dos quais os moradores precisavam se valer constantemente. Por fim, a professora disse que tentou não se embrutecer e nem naturalizar as situações de risco que ocorriam na Maré, porém, ao longo de vários anos dentro do território, ela sente que, assim como os moradores, acabou naturalizando a violência, por assim dizer,  corriqueira que acontece dentro da favela.